sábado, 27 de fevereiro de 2010

Shutter Island - Someone is missing

(Não se assustem com o tamanho do post. O layout deste blog é que o faz ter este comprimento assustador.)
De: Martin Scorsese
Baseado na obra de: Dennis Lebane "Shutter Island"
Com: Leonardo DiCaprio
Ben Kingsley
Mark Ruffalo
Max von Sydow

Sinopse
Leonardo DiCaprio (Titanic, The Aviator, The Departed) é Teddy Daniels, um investigador que acompanhado com o seu colega Chuck Aule, interpretado por Mark Ruffalo (Ensaio sobre a Cegueira),vão para uma ilha remota, Shutter Island, onde está localizado o Hospital de Ashecliffe, uma instituição que hospeda e trata criminosos com problemas psicológicos graves. Apesar de terem sido enviados para investigar o desaparecimento de uma prisioneira, Terry difere da sua missão, tentando descobrir a verdade sobre a instituição.Plano de Fundo
É difícil falar deste filme e do enredo sem relevar demais. Vou tentar evitar spoilers, porque acho verdadeiramente que este filme merece ser visto sem se saber muito sobre ele.

Vamos estabelecer o tom do filme:

Tudo nele grita Noir, Gótico, Hitchcock, Buñuel, Edgar Allan Poe!De facto, enquanto via o filme, o estilo Gótico fez-me lembrar imediatamente The Birds, e um toque a surrealismo fez-me pensar Robert Wiene. Confirmei as minhas suspeitas quando li as notas de produção, onde se afirmava que Martin Scorsese, enquanto lia o guião, associou-o ao The Cabinet of Dr.Caligari.

Como Scorsese já nos habituou, e se revelou mestre, em todos os seus trabalhos : o filme é perfeito no que trata a explorar os sentimentos de culpa, paranóia e tensão. De facto, o ambiente era tão claustrofóbico, que eu estava constantemente tensa, ansiosa e colada à cadeira com a sobrancelha franzida.

O filme é baseado na obra "Shutter Island", de Dennis Lebane, autor do livro "Mystic River", e "Gone Baby Gone" que também já foram adaptados para cinema. O registo gótico permaneceu intacto, das páginas do livro para o ecrã.

O Melhor
É bom ver o amadurecimento de Leonardo DiCaprio, através do grande ecrã, ao longo dos anos. No papel de Terry Daniels, ele presenteia-nos com um fantástico desempenho, cheio de "camadas" e juro que me começava a doer a cabeça só de vê-lo sofrer com as enxaquecas.

Mark Ruffalo é um deleite para os olhos, já que quase parece ser o anjo, o companheiro, o verdadeiro da história...e fá-lo tão bem.
O filme é rico em dualidades, o que é sempre fascinante e enriquece a história. Todos têm duas versões e os temas dividem-se sempre entre o "bem e mal", "yin e yang", "guerra e paz", "herói, vilão"...
A nível de cenário e vestuário, nada a apontar. Os edifícios são monstruosos, negros e têm o elemento sobrenatural q.b. para se ajustarem a todo o molde do filme. Belíssimo, esteticamente.

Apesar de a meio do filme já termos uma ideia de como vai terminar o filme, não é previsível, porque acabam sempre por haver pequenos "twists and turns".
O Não tão bom
Não é o melhor trabalho de Scorsese, e o problema de ter vindo logo a seguir ao "The Departed" é exactamente esse: é um trabalho bom, mas em comparação com o anterior, é fraco. Mas não deixa de ser um bom filme!
E é isso que é fascinante em Scorsese: ele entrega-nos grandes obras primas, como o The Departed mas depois volta sempre às origens e a um registo mais familiar: a irreverência do realizador em aceitar este filme torna-o também interessante.

O primeiro diálogo e algumas cenas iniciais fizeram-me pensar "isto vai ser uma desilusão", mas a partir da meia-hora, comecei a ficar interessada pela história, e a minha opinião mudou radicalmente.

O Pior
Não é necessariamente o pior, mas para quem odeia filmes que parecem inacabados, ou deixam o final em aberto, para a audiência dar a sua própria interpretação, este filme não é para eles.

Será que os loose ends resultam de problemas de produção/realização (não creio), ou fazem parte de todo o tom demente do filme?

Veredicto final
Adoro temas relacionados com a psicologia humana e este é particularmente pertinente: será que o louco é realmente louco, ou somos nós que estamos loucos e não conseguimos ver a verdade? Quem é que está louco: Nós ou o Mundo?

Um filme com boas interpretações, visualmente perfeito, interessante e consistente... Eu aconselho.

Conselho
É pesado. A quem costuma ir ao cinema, por ir, não aconselho. Não vai sair mais leve, nem mais alegre. Eu saí com uma dor de cabeça, pesada, triste e pensativa.

Fun Fact
Lobotomia é um tema recorrente durante o filme. Sabem quem é que desenvolveu a prática de lobotomia (mais correctamente designada de leucotomia)? O nosso prémio Nobel da Medicina: Dr. Egas Moniz.



4 comentários:

Demian disse...

Eu encaixo aqui: "mas para quem odeia filmes que parecem inacabados, ou deixam o final em aberto, para a audiência dar a sua própria interpretação, este filme não é para eles."...

A juntar a isto, a minha crescente exigência no que à sétima arte diz respeito, e as esperanças que deposito sempre que se trata de um realizador/elenco deste calibre... Normalmente venho super desiludido da sala de cinema, espero que não aconteça neste caso, depois farei a minha própria análise lá no All About Nothing... :)

Beijo

Demian disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marina disse...

Não estava muito curiosa para ver o filme, mas agora estou!! Obrigada Ana!! =)
(só um à parte: "yiN-yanG")
Jinhos, até 2ª.

Vai ver o novo visual do meu blog (ainda se está a ambientar xD).

Chandelier disse...

Marina, obrigada =) Já corrigi. É o que dá não rever o que escrevo. =P

Beijinhos!