segunda-feira, 9 de junho de 2008

Chuva Oblíqua III

Como a blogosfera serve também para nos confessarmos, cá vai: Eu, quem antes chamava todos e mais alguns nomes a Fernando Pessoa, gosto da poesia dele. Referente à matéria de Secundário, percebo-o melhor que Saramago, Sttau Monteiro, Camões ou o meu querido Eça de Queirós, de que tanto gosto. Julgava ser o mais complicado, afinal é o que conheço mais e o que tenho mais gosto de conhecer. Desculpem se sou pouco patriota, mas não consigo gostar de Camões!
Deixo-vos com a Terceira Parte de Chuva Oblíqua, porque é de Fernando Pessoa e porque gosto muito do Egipto:

"A Grande Esfinge do Egito sonha por este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops ...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro
E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim! ... "

Fernando Pessoa

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